Publicado em 17/01/2022
Nada. Nenhuma promessa de ajuda financeira foi feita pela ministra da Agricultura Tereza Cristina em Chapecó, no Oeste do Estado, na quarta- feira 12/1, durante a visita de avaliação dos prejuízos causados pela estiagem em Santa Catarina.
No lugar de acenar com algum tipo de socorro econômico, ela deu um conselho que deixou os políticos, empresários e jornalistas presentes de boca aberta, sem saber se a ministra falava sério ou se estava fazendo uma brincadeira de mau gosto:– Rezem para São Pedro para ele fazer chover novamente. Temos que dar um puxão de orelhas nele.
Se Tereza Cristina soubesse da realidade enfrentada pelas prefeituras do Extremo Oeste – mais próximas do Rio Grande do Sul – neste terceiro ano de seca, entenderia que a situação da região é grave e exige mais raciocínio e logística do que fé.
Em Itapiranga, a 704 quilômetros de Florianópolis, por exemplo, desde novembro do ano passado o prédio da prefeitura transformou-se numa espécie de QG (Quartel General) da guerra contra a seca. Uma série de operações precisa ser controlada diariamente, a começar pelo nível do Rio Uruguai.
De lá, onde estão localizadas duas das cinco estações de tratamento de água do município, são retirados boa parte dos 8 milhões de litros captados e tratados diariamente. A operação, segundo o prefeito em exercício Nilo Bourscheid (PT), faz do município de 17 mil habitantes o único da região da Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina (Ameosc) no qual todas as residências, urbanas ou rurais, recebem água encanada.
A manutenção do abastecimento, na verdade, deve-se a um acordo firmado entre as hidrelétricas do Rio Uruguai, a prefeitura de Itapiranga e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS), como detalha o engenheiro agrônomo Eusébio Tavares, secretário municipal da Agricultura:
– Hoje, na bacia do Rio Uruguai o objetivo não é gerar energia elétrica e sim manter a vazão mínima – diz, lembrando que o acerto tende a ser renovado na reunião marcada para a terça-feira, 18/1 entre os envolvidos.
Segundo Eusébio, o acordo garante água para captação e atividades econômicas além de assegurar as condições necessárias à travessia das balsas entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. ”As hidrelétricas estão a nosso favor”, garante.
No entanto, basta alguma das barragens ser fechada por qualquer necessidade para que o nível do rio diminua deixando as pedras à vista como aconteceu nesta segunda-feira, 17/1.
A exemplo do que ocorre com as hidrelétricas, o apoio prestado pelo governo do Estado merece aplausos segundo o secretário de Agricultura. E inclusive resultou na criação de uma linha de financiamento para a implantação de cisternas nas propriedades rurais. “Mas os R$ 150 milhões disponíveis são insuficientes para atender todos os atingidos pela estiagem. “Isso é pouco”, assegura o prefeito Nilo. “Tem fila de espera”, complementa, garantindo que o valor seria suficiente para atender apenas os municípios do Extremo Oeste, entre os quais Itapiranga se inclui.
A estiagem cuja gravidade a ministra Tereza Cristina desconhece inclui ainda a retirada de 12 a 15 caminhões diários de água do Rio Uruguai para abastecimento dos chiqueirões e aviários em situação de crise hídrica. Vale dizer que cerca de 60% da receita de Itapiranga vêm da suinocultura e da avicultura
Texto: Imara Stallbaum
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